Quinta-feira, 6 de Maio de 2010

ouvido no café

(...)

ela, atrás do balcão: mas diz que hoje vem calor.

ele, cliente: e ainda bem. bem que falta faz. às batatas.

ela: às batatas e não só. e calor humano.

ele: ?

ela: calor humano faz falta. isso é que é bom. calor humano.

a outra, sentada numa mesa: olha, queres ver que ela tá carente.

ela: tão, não é bom? calor humano.

ele: se ela tá carente, tem bom "reméido", vem cá o Papa.

a outra: o Papa?

ele: pois, atão não é para os "carentes" que o Papa cá vem? é prós "carentes", né? prós que acreditam.. os "carentes".

elas: (...)

ela: o Papa na traz nada, só vem é gastar. Nem percebo esta coisa toda do Papa, é uma vergonha.

ele: Ele devia ir vir era uma ou duas vezes por ano. Assim, era uma data de dias sem trabalhar, que é o que essa gente gosta.

ela: Bolas! Para "eles" gasterem tudo?

a outra: "eles" já nã têm nada! Isto está tudo já na miséria. mas olha, mas ao menos o dia hoje está bom. Até amanhã.

ela: é calor humano! até logo!

 

 


Sexta-feira, 18 de Dezembro de 2009

Redes sociais

 


Sábado, 25 de Abril de 2009

A Liberdade já passou por aqui

Tendo eu já vivido em 2 localidades cujas autarquias eram "comunistas", os festejos do 25 de Abril de que me lembro da minha mocidade eram grandiosos. Grandiosos é exagero, mas notava-se uma real afluência às actividades. Concertos, actividades várias para crianças e adultos, os discursos da praxe dos caciques e dos poderzinhos... o costume.

Em virtude dessas vivências e do carácter pedagógico de muitas dessas acções percebo, hoje, que era fácil para uma criança, na altura (early to mid 80's), compreender minimamente o que se tinha passado naquele dia para podermos ir pintar para a praça da vila, livremente, palavras  de ordem (ou valores essenciais) como igualdade, Fraternidade, Liberdade. (desenhos de chaimites ou espingardas com  flores também faziam sucesso). Felizmente, em casa sempre tive acesso a informação e, sobretudo, vontade de a absorver.Daí a perceber o que foi o Estado Novo foi um pequeno passo.

Mais tarde, já adolescente e adulto, cheguei a falar com pessoas que estavam e estiveram dos dois lados da barricada. Muito sinceramente, acredito que houve ditaduras muito piores do que a nossa, mais castradoras da(s) liberdade(s), mais persecutórias, mais eficazes. Mas não é por isso que a nossa ditadurazinha (tão portuguesa) não deixou de ser um dos piores períodos da nossa História, por todas as razões que são sobejamente conhecidas e documentadas. Não gosto de apontar nomes, mas Salazar foi um dos maiores responsáveis pelo Estado que se criou.  Assim como o foi, nos bastidores e para efeitos de marketing, António Ferro que criou, à volta de Salazar, um mito (do qual, ainda hoje, não se sabe se está muito distanciado da realidade) de um homem austero, mas paternal, retratado como o Salvador da Nação. António Ferro era um homem avançado para a época, de reais capacidades de marketing político cujo objecto promocional não era. de todo, o mais, vá, democrata. Assim, compreendo porque ainda existam restícios dessa imagem Sebastiânica à volta de Salazar. E, hoje em dia, há muitos Antónios Ferros por aí. Os adeptos da teoria da conspiração (dos quais eu sou um adepto hooligan) esfregaram as mãos de contente ao verificar que iria ser transmitida uma estupidamente óbvia limpeza de imagem do ditador, na figura de uma série emitida em horário nobre, em que Salazar é um charmoso galã que até papa camones e astrólogas bisexuais. Com isto, consegue-se dar uma dimensão humana à então figura de proa da Nação, coisa muito em voga e apetecida pelos consumidores de política. (não esquecer que toda a política é um espectáculo)

Ora, com isto, e para não tornar o texto demasiado comprido, compreendo que ainda existam, em Portugal, ruas e praças com o nome de Salazar. Assim como compreendo que haja Plazas ou Calles em Espanha com o nome de Franco.

O que não compreendo é que se deixe passar, impunemente, o verdadeiro insulto à memória de quem sofreu e morreu às mãos de um regime fascista, neo-fascista, quasi-fascista, clerico-fascista -  o que lhe quiserem chamar - que foi, desde 1933 até 1974, uma ditadura totalitária liderada por António de Oliveira Salazar primeiro e, mais tarde, por Marcello Caetano.

O insulto que é dignificar o seu nome, exactamente no dia em que, finalmente, os militares se revoltaram contra um sistema podre que os obrigava a lutar uma guerra que eles sabiam que não iriam vencer destruindo, no processo, o próprio sistema de Estado e seus dirigentes (sim, porque muitos PIDES, PJ's e GNR's continuaram no activo durante muitos anos com os mesmos tiques fascizantes que o próprio sistema tinha e lhes dava, ao lhes dar o poder dos poderzinhos). O insulto que é inaugurar a requalificação da calçada e do Ecoponto duma praça, que por acaso tem o nome de Dr. Salazar...

Esperem..

Mas isto tudo porque a calçada vai ser arranjada? E faz-se uma inauguração da obra? E exactamente no dia 25 de Abril? Estamos em anos de eleições, certo? E os poderzinhos, neste caso, autárquicos continuam a ser obtusos e insensíveis a esses pormenores? Ou os portugueses, que sempre foram passivos, deixando que 48 anos de botas lhes pisassem os direitos, continuam passivos e continuarão passivos até que surja um novo Salvador, desta vez de pantufas e fato Armani, para nos podermos queixar dele, como só nos o sabemos fazer? 

Os Portugueses são acomodados por natureza e, feliz ou infelizmente, estão cada vez mais desligado do espectáculo que se tornou a política. Ainda bem. Talvez quando o novo salvador da nação chegar e nos lembrarmos de como era bom quando eramos livres, talvez aí, o Português se aperceba que fazer política está nas nossas mãos, manifestando-se, unindo-se a outras pessoas com causas  comuns, tendo em mente o que os putos gostava de pintar nas pedras da praça da minha terra, não os chaimites, mas aquelas minudências como a Igualdade, a fraternidade e aquela outra... ah, sim, a Liberdade.


Quinta-feira, 19 de Março de 2009

Já ouvi falar em putas finas, mas isto é exagero...

EUA: Mulher diz em tribunal que 43 milhões em pensão de alimentos não chega para pagar despesas.

 

Podem ler a notícia completa aqui.


Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2009

Contra o branqueamento

 " Sou historiador. Todavia, aprecio particularmente a ficção e não me preocupo que o teatro, o cinema ou a literatura criem “estórias” que, de forma assumida, alterem a história, para a interrogarem ou a criticarem.

Assim sucedeu, por exemplo, com o Cabaret da Santa, do companhia Teatrão, de Coimbra, numa co-produção luso-brasileira. Ali se evoca de forma humorística, entre o teatro brechtiano e a revista à portuguesa, vista à maneira brasileira, a chegada dos portugueses e de D. João VI ao Brasil e muito mais coisas, numa sucessão talvez excessiva (verdadeira rapsódia de cenas e de músicas), em interacção com o público, que se sente ora seduzido ora “enganado”, mas sempre entusiasmado.

Sobre Salazar, vi, já em posterior apresentação televisiva, Deus, Pátria e Maria, encenada, há alguns anos, no Teatro Maria Matos, da autoria de Maria do Céu Ricardo e com excelente interpretação de Márcia Breia. Mais recentemente, assisti a Férias grandes com Salazar, cujo original foi escrito pelo espanhol Manuel Martínez Mediero, apresentada pelo Teatro Nacional D. Maria II no pequeno Teatro da Politécnica.. E vi mesmo, sem me chocar, Salazar, The Musical, encenada no Teatro Villaret pelo inglês John Mowat. Independentemente de ter gostado ou não dessas peças, o certo é que se tratava também de ficção, estando bem definidos os planos da História e da “estória”, sem haver qualquer confusão.

O mesmo não se pode dizer desta Vida Privada de Salazar, apresentada em horário nobre pela SIC. A vida íntima consistia, nesta apresentação de pretensões históricas, sem nenhuma qualidade, em conduzir o espectador a passar da visão de um

 “Salazar austero” para um “Salazar licencioso”, onde tudo é permitido, desde que encha os olhos de um público estranhamente à espera da última tirada do “Chefe”, que governou este país, em ditadura, durante cerca de quarenta anos. Clara Ferreira Alves, num seu artigo do Expresso, em 21 de Março de 2007, dizia ironicamente: “Salazar é que está a dar”. E a cineasta Maria Medeiros, numa entrevista ao Jornal de Letras, em Junho de 2008, afirmou com desânimo: “Quando vou a Portugal choca-me a catadupa de livros, séries e produtos à volta de Salazar. Parece-me um absurdo. Nos outros países não há uma nostalgia assim de um ditador. Romantiza-se um período, ocultando o horror da tortura e da guerra”.

Na verdade, vale tudo, para que o produto se venda. Seja a Vida Privada de Salazar ou alguns livros que editores sérios deveriam ter vergonha de lançar no mercado, seja o concurso Grandes Portugueses, da nossa oficialíssima RTP, com a colaboração de muitos intelectuais da nossa praça, que colocou no pódio do “maior português de todos os tempos”… António de Oliveira Salazar!

Enfim, não é de admirar que, neste panorama — que nem sequer é apenas português —, se destruam a cultura, a indústria e o comércio nacionais, surja um desemprego nunca visto e se caia numa das maiores crises de sempre, com escândalos públicos e privados que todos os dias nos batem à porta. E ninguém parece lembrar-se que o fascismo surgiu de crises idênticas da democracia política e, sobretudo, de crises da democracia social e da ética, que alguns evocam só em momentos de puro oportunismo.

De resto, vale tudo…! Mesmo tudo!? Espero que, ao menos, nos reste um pouco de vergonha, de inteligência e de esperança para mudar o “sistema”, aprofundando a Democracia numa visão verdadeiramente Política e Social. Mas, para isso, é necessário uma outra Cultura. Esta é mesmo a hora da Cultura ou… a hora da incultura e do desespero.

Luís Reis Torgal

* Professor Catedrático Aposentado de História Contemporânea da Universidade e Coimbra. "

Publicado in Diário de Coimbra, 11 de Fevereiro de 2009, Quarta-Feira, p. 9.

Uma nota de agradecimento e um grande bem-haja ao Senhor Embaixador em Newcastle-upon-Tyne por me ter enviado o textículo que acabo de transcrever.


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