Sexta-feira, 24 de Abril de 2009

Manual de Engate, pelo meu amigo S.

Depois de uma semana de trabalho particularmente chata, ansiava por aquele momentinho depois das 18, em que me sento na esplanada do café das tias aqui do burgo (um dos poucos com esplanada, o único com uma esplanada abrigada do vento), ponho os phones nas orelhas e leio o meu livrinho ou o jornal descansado. É claro que, o facto de viver numa terra pequena e ter sido, nos meus tempos aúreos, uma pessoa minimamente sociável, faz com que determinadas pessoas se julguem no direito de apontar para nós, para a cadeira e, simpaticamente, perguntarem: "Posso?"

 

A pessoa em causa é um conhecido de infância. Daqueles que não podemos chamar amigos, porque amigos são poucos mas que a convivência de anos não nos permite etiquetá-los de "conhecidos". É um "amigo" com algumas posses mas que crava cigarros e cafés a proletários como eu. Por exemplo, a primeira coisa que ele me disse quando me viu a chegar ao café foi: "Olá. Tens dinheiro no telemóvel? É que tenho que mandar uma mensagem anónima."... Como? E porquê anónima..?  Ladrei-lhe um simples não. É preciso ter lata e, mais ainda, acreditar que nos consegue fazer de parvos com a sua falsa e maldosa estupidez.

Ele saiu do café e depois, quando eu já estava no meu ritual, sorriu um falso "posso" enquanto se sentava.

 

O que uma pessoa faz numa situação destas? Um genuíno "Eh pa, não, não me apetece falar contigo?" esteve mesmo debaixo da lingua, mesmo mesmo prestes a sair. Mas, tendo em conta a pessoa, disse para mim mesmo: que se f*oda,vamos ver no que isto dá. Mal eu sabia.

 

Não tirei os phones, ele fez-me uma pergunta idiota qualquer a que eu respondi monosilabicamente, irritado porque estava mesmo a chegar ao fim do "Tigre Branco" . Entretanto, a nova empregada do café surgiu e ele meteu conversa com ela. O diálogo foi delicioso.Pelos vistos, já tinha havido uma abordagem anterior por parte do meu "amigo".

Ele desfila - Desculpa, esqueci-me do teu nome. Ela respondeu-lhe com um sorriso profissional enquanto limpava as mesas. Desculpa, mas eu não tenho grande memória para nomes. Só caras e outras partes do corpo.HÃ? A partir daí, tomei sentido no chorrilho de tolices que daí veio. Conhecendo a peça como conheço, isto seria uma abordagem à macho latino. Recostei-me e apreciei o espectáculo. (um aparte - não sendo nenhum trambolho, a moça estava bem longe de ser um ícone de beleza.)

Ele perguntou: Já foste mamã? Ela sorriu maternalmente e disse que sim, já tinha sido mãe duas vezes. Ele deu-lhe os parabéns e comentou que não era normal ver uma mulher que já tinha sido mãe ainda ter o corpo tão rijinho. (WHAT THE FUCK?!?!)

 

Coincidência ou não, ela imediatamente começou a limpar as mesas do outro lado da esplanada. Ele continou: mas és casada? Ora, agora até eu estava a sentir-me incomodado. Apesar de já conhecer a peça há imenso tempo, nunca o tinha visto tão acintoso na sua estupidez natural (ou na sua megalomania de Don Juan de pacotilha). Pelos vistos, ela também ficou: olha lá, mas tu queres o meu curriculum? Eu olhei para ela e ri-me, dizendo com os olhos que não tinha nada a haver com ele e que não tenho a culpa que lhe tenham trocado a medicação. Ela compreendeu, talvez não a parte dos comprimidos, mas o essencial.Mas quando pensava que tinha ficado por aí, voltou à carga, e desta vez sonoramente: Mas és casada ou não? Desculpa eu ser assim tão directo, mas é para saber se dia * de Outubro te posso pagar um café. (OUTUBRO??? é impressão minha ou ainda falta cerca de MEIO ANO??).Ela disse, sim estou muito bem comprometida.

 

Ficou-se por aqui, o psicopata sociável? Ná, voltou à carga. Ah, ok. Pois, eu já percebi uma coisa. É que com as casadas, não podemos ser nós a tomar a acção. Elas é que têm que nos dizer quando querem. OK, isto não é normal, pois não? A senhora ainda olhou para mim, num misto de cumplicidade e pedido de ajuda, e o que lhe li nos olhos foi: Mas ele tomou os comprimidos?? Respondi-lhe ocularmente: eu tinha-te dito Ao meu amigo. sonoro, com a boca toda, disse-lhe: F*da-se, oh S., tu és mesmo muita estúpido.

 

Depois de anos de convivência, achei que estava na altura de ser sincero com ele. Não quero tratar as pessoas com hipocrisia. Para isso, já há as máscaras socias que temos de usar. Mas, f*da-se, há limites e este jovem há muito que os tinha ultrapassado. A meu ver, claro, que não ando a tentar engatar empregadas de café casadas e mães de 2 filhos. O problema deve ser meu. Ele ainda me respondeu: Ah, mas eu consigo o que quero. Desta vez, nem eu nem a empregada nos contivémos e desatámos a rir à gargalhada na esplanada. Levantei-me a rir e virei-lhe as costas. 

 

Decidi que esta estória, dirigida ao meu umbigo e ao umbigo de quem conhece a peça, merecia ser contada como aquelas histórias da tropa que os nossos pais e avós contavam. É que não duvido que ele consiga o que quer. Também não duvido que muitas vezes tenha que pagar para ter o que quer. Bem vistas as coisas, não consigo imaginar outra forma de ele ter aquilo que quer. O mais certo é ainda lá estar na esplanada a tentar. Também acredito que a empregada tenha chamado as amigas só para o ouvir falar, pois o país está triste e qualquer desculpa é uma boa desculpa para nos rirmos, mesmo que seja à custa de uma qualquer desordem de personalidade dependente ou puro desajustamento social. 

 

Duvido que ele me pergunte novamente se "pode", mas se o fizer, da próxima vez quero ter a certeza de que vou gravar a conversa. É que não é todos os dias que se têm um espectáculo cómico daqueles de borla.


13 brutos comentários:
De Fulano a 27 de Abril de 2009 às 16:37
Houve quem dissesse que a história é engraçada, discordo, acho mesmo deprimente. O nível de boçalidade retratada. Sinceramente julgava que mesmo o "macho latino tuga" tivesse evoluído alguma coisa. Ingenuidade minha. Na minha qualidade de dinossauro conheci espécimens do tipo mas julguei que tivessem ficado lá pelas brumas do jurássico. Pelos vistos a espécie sobreviveu a todos os meteoritos. A prova que afinal é mesmo isso: « é preciso que alguma coisa mude para que fique tudo na mesma »


De A.Bruto a 27 de Abril de 2009 às 17:47
Meu caro Fulano, obrigado pelas simpáticas palavras.
O assustador desta situação é que a personagem em causa acredita que foi charmoso e espirituoso, um verdadeiro "ladies man".
Na minha opinião, é só parvo.
Cheers


De Vítor das Padarias a 27 de Abril de 2009 às 18:11
O gravemente assustador é mesmo isso. O mister acha que foi, manifestamente, uma abordagem cheia de charme e de classe. E não tentem convencê-lo do contrário. Seria uma boa cobaia num estudo que abordasse o efeito a longo prazo da masturbação excessiva no cérebro.


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