- Mexe-te, raio do puto! - diziam-lhe. É deixá-lo, que ele tem tempo para penar - diziam as alegres cassandras. E ele continuava quieto, ocasionalmente deambulava pela sala, como que se observasse um quadro pendurado na parede ou uma janela que permitisse ver, nem que fosse através de um pequeno orifício, o que estava lá fora. Percorria a sala, à volta da mesa onde as hárpias jogavam às cartas. O que elas não sabiam era que ele estava a ouvir música. Primeiro as madeiras, saltitantes como os pássaros madrugadores, seguidas num instante pela entrada em peso das cordas, dos metais, da percussão... E toda aquela parafernália sónica, que existia só na sua cabeça, começava a encontrar uma organização lógica, em que entravam guitarras, teclas, e no auge da introdução, pico das emoções, os músicos começam a suar, principalmente os vionistas, tinha-lhes arranjado uma secção tramada, com sequencias de acordes, em que todos os instrumentos soariam com a precisão e a alma de um primeiro solista conceituado. Acordou com a pesada garra da suína que hoje o levava ao quarto para deitar - "xixi cama" - Pianissimo.
Trouxe comigo o cheiro do álcool, entranhado na farda da vaca mas foi tudo o que consegui trazer.